A cólica do lactente é uma situação que causa grande desconforto aos pais, além de sensação de impotência e incompetência, porém é importante ressaltar que ela é uma situação transitória, sem risco de mortalidade e que não interfere no desenvolvimento normal da criança.
Para fins de comparação a definição criada por Wessel é usada em estudos que avaliam a cólica do lactente. Segundo essa definição cólica é uma síndrome caracterizada por paroxismos de irritabilidade, agitação ou choro, durante pelo menos três horas por dia, mais de três dias na semana em pelo menos três semanas, em crianças saudáveis.
Porém episódios esporádicos de choro intenso, súbito, inexplicável e inconsolável, com frequência acompanhados da eliminação de gases, que parecem trazer um alívio temporário do choro, também podem ser em decorrência de cólicas. Em um estudo recente realizado em Pelotas, no RS, no qual 80% das mães referiam que seus bebês apresentavam cólicas, apenas 16% destes preenchiam os critérios de Wessel.
Esse problema usualmente surge na segunda semana de vida, intensifica-se entre a quarta e a sexta semana e gradativamente alivia, desaparecendo até o quarto mês de vida.
Não se sabe ainda a causa das cólicas nos lactentes, existem algumas teorias para explicar estes episódios:
1- Motilidade intestinal alterada – hiper peristaltismo do cólon e pressão retal aumentada.
2- Hormônios intestinais – a motilina, que exagera a peristalse intestinal, parece estar aumentada nos lactentes que sofrem de cólicas.
3- Excesso de ar intragastrintestinal – a aerofagia poderia ser causa, mas também pode ser consequência do choro.
O ambiente familiar, ansiedade paterna e materna, e excesso de estímulos também são fatores possivelmente relacionados ao desenvolvimento de cólicas.
Então o que fazer quando a criança tem cólicas?
Primeiramente é necessário se acalmar e lembrar que a criança não corre nenhum risco de vida e que pais ansiosos dificilmente conseguem tranquilizar seus filhos. Se medidas comportamentais (pegar a criança no colo, reduzir estímulos sonoros e visuais, massagens, dentre outros) não funcionarem, pode-se tentar pequena quantidade de solução de sacarose (por exemplo molhar a chupeta em solução de água com açúcar) ou analgésicos para tentar aliviar a crise aguda.
A longo prazo algumas medidas potencialmente podem diminuir a frequência e a intensidade das cólicas:
1- Em primeiro lugar vários estudos mostram que crianças em aleitamento materno tem menos cólica e a incidência de cólicas nessas crianças é mais tardia.
2- Para crianças em aleitamento materno uma dieta materna pobre em alérgenos (leite, ovo, castanhas) e estimulantes (café, chocolate) também parece reduzir a incidência de cólicas, principalmente em famílias atópicas.
3- Para crianças em uso de fórmulas, o uso de fórmulas hipoalergênicas também pode ser benéfico.
4- Técnicas para reduzir a ingesta de ar durante as mamadas também podem reduzir as cólicas.
5- Existem alguns trabalhos que mostram o benefício do uso de probióticos a base de Lactobaccilus reuteri para redução das cólicas, mas isso ainda não é uma recomendação bem estabelecida e necessita de comprovação de seu benefício.
Não existe evidência de benefício do uso de substâncias que reduzem os gases (simeticona e dimeticona) no alívio das cólicas. E o uso de chás e anticolinérgicos (metilescopolamina) podem ser prejudiciais à criança.
Por fim devemos mais uma vez lembrar que as cólicas tendem a melhorar após o 3o mês de vida, e que amor, paciência e carinho sempre são o melhor remédio.
Texto escrito pela nossa colaboradora pediatra Dra. Talita Freitas Manzoli.
Formada em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Residência em pediatria pela Faculdade de Medicina da USP.
Residência em Terapia Intensiva Pediátrica pela Faculdade de Medicina da USP.
Pediatra intensivista nos hospitais São Luiz Jabaquara, Cruz Azul de São Paulo e Regional de Osasco.
Bibliografia
1. Wessel MA, Cobb JC, Jackson EB, Harris GS, Detwiler AC. Paroxysmal fussing in infancy, sometimes called “colic”. Pediatrics 1954;14:421-34.
2. Treem WR. Infant colic. A pediatric gastroenterologist’s perspective. Pediatr Clin North Am 1994;41:1121-38.
3. JBI A Efetividade das intervenções na cólica do lactente Best Practice 12 (6) 2008 1
4. JAMA Pediatrics dec 2013 – Probiotics to prevent or treat excessive infant crying: systematic review and meta-analysis. – Sung V, Collett S, de Gooyer T, Hiscock H, Tang M, Wake M.
5. Patient information: colic ( excessive crying ) in infants ( Beyond the basics ) – Teri Lee Turner and Shea Palamountain